domingo, 10 de novembro de 2013

#MOSTRA SP - ERA UMA VEZ EM TÓQUIO

Eis um filme antigo que reforça a genialidade de um diretor. Yasujiro Ozu conta-nos uma história que poderia acontecer (se é que não acontece) com qualquer um de nós. É um retrato do cotidiano e da forma como a sociedade de maneira geral trata o relacionamento familiar.

Temos na trama um casal de idosos que resolve visitar seus filhos que vivem em Tóquio. São recebidos com certa festa contida, porém, deparam-se na sua estada com uma rotina familiar de trabalho dos filhos, os quais por conta destes compromissos não tem tempo de dar a atenção necessária para seus ilustres hóspedes.

Pai e Mãe encontram-se em Tóquio enredados em um cenário onde passam a ser visitas não tão bem recebidas. Os filhos não tem tempo para lhes dar a devida atenção, afinal estão ocupados demais com seu trabalho e sua rotina. Até os seus netos em algum grau também não podem desfrutar da presença dos avós pois eles também são afetados pelo dia-a-dia da vida na cidade grande. Ora, se os pais não são visitados no interior por conta do trabalho, também são privados do contato sadio com os filhos quando eles tomam a atitude de ir visitá-los.

Ironicamente, o casal encontra na nora viúva de um de seus filhos a atenção que merecem. Apesar de também trabalhar para se sustentar ela se esforça em encontrar algum tempo para poder mostrar Tóquio ao simpático casal.

Simples a história não é? Mas o que ela traz a tona é nos questionar e explicitar o quanto estamos dando a devida atenção a nossos relacionamentos familiares, o quanto os compromissos sociais nos tomam tempo de aproveitar um relacionamento que é finito e porque não, de retribuir toda o esforço que nos foi dedicado durante anos pelos nossos pais. 

Estéticamente Ozu ainda utiliza um tipo de plano onde nos diálogos os personagens falam olhando diretamente para a Câmera, o que dá o sentimento de que estão se referindo diretamente ao expectador, contando-lhe os seus problemas e seus pontos de vista. Dentro da história isso incomoda positivamente, pois o personagem fala de algo que na vida moderna parece ser muito comum.





quarta-feira, 6 de novembro de 2013

#MOSTRASP - BACZYNSKI

A Mostra de Cinema nos proporciona ter contato com personagens que muitas vezes desconhecemos. Este foi o meu caso ao assistir este filme que conta a história de um dos  - senão o maior - poetas da história da Polônia.

Baczynski viveu no período da 2a guerra mundial e destacou-se pelos seus textos ainda jovem. Lutou defendendo a liberdade do seu país participando de uma luta armada contra os nazistas, morreu também jovem em uma emboscada armada pelos Nazis.

O que chama a atenção no filme é um mix entre documentário e filme  biográfico. É uma estética interessante pois o espectador pode ter contato com uma história interpretada por atores e conhecer um pouco da obra do personagem através dos momentos documentais.

O início disso tudo se dá através de uma reunião anual de pessoas que são fãs de Baczynski. Em sua grande maioria são jovens. Esta reunião é uma espécie de sarau, onde os presentes são convidados a interpretar poesias de Baczynski de forma livre. E é através deste evento que o diretor conduz a história do poeta, desde a tenra idade.

O que me pareceu foi que Baczynski é como se fosse um Paulo Leminski polonês. Um cara que boa parte de seus leitores não conheceu, mas sua obra é tão vanguardista que chama a atenção dos jovens.




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

#MOSTRASP - ATÉ QUE A SBORNIA NOS SEPARE

Conheci o trabalho do Otto Guerra quando ele dirigiu a animação para os personagens do Angeli Wood&Stock. Desde então, sempre que tem algo onde o Otto está envolvido eu busco dar uma olhada.

Até que a Sbornia nos separe é baseado naquela peça esquisita (no bom sentido) "Tangos e Tragédias" e é uma animação que conta a história de como os amigos Krannus e Pletskaya iniciaram a sua carreira de músicos e como eles vieram parar em um país antes desconhecido que era separado pelo grande muro da Sbornia.

Hilariante e crítico aos sistemas econômicos, tanto o comunismo burro quanto ao capitalismo selvagem, a animação nos brinda com situações que se emolduram em nossas vidas, mas que nem sempre nos damos conta. Desde ao tradicionalismo patriótico até a intervenção econômica social da relação dos pais com seus filhos.


Bom, mas a forma da análise acima nada tem a ver com o clima do filme, que é divertido e cheio de sacadas engraçadas com as catástrofes que o mundo nos traz. Para quem quer se divertir com um humor sarcátisco e ácido, está ai uma boa dica!



#MOSTRASP - ESTAÇÃO LIBERDADE

O filme do Caito Ortiz tem uma boa história e trata de um tema pouco explorado no cinema brasileiro que é a imigração japonesa. Um povo com tamanha carga de sofrimento, luta e cultura deveria estar mais presente nos retratos da produção nacional.

A ambientação do filme se passa no bairro da Liberdade e no metrô da cidade de São Paulo. Primordialmente, Caito optou por um desenrolar de sua história na noite misteriosa do centro velho, um lugar degradado e preso a seu passado, assim como o personagem central do filme o "japonês Mario".

O japonês recebe uma carta misteriosa escrita em japonês, acompanhada de uma foto sua quando criança no colo de seu pai que voltou ao Japão e nunca mais deu notícias. O recebimento da carta mexe com a rotina de Mario que passa a vagar sem destino pelas ruas escuras de um decadente bairro da Liberdade. Nestas andanças ele encontra pessoas que servem-lhe de sinal de uma caminho para reencontrar a sua história.

Como citei no início é uma bela história. O que me incomodou foi uma montagem muito entrecortada na questão temporal. Já vi filmes que trabalham a questão da cronologia inversa no roteiro e tempo não linear. Até entendi o rumo que quiseram dar a história, mas principalmente em seu início, Estação Liberdade dá uma exagerada na dose, o que para um expectador menos concentrado pode causar certo cansaço. 

Do meio até o fim do filme como a vida de seu personagem (seria isso a licença estética?) o filme entra no eixo e passa a ser menos instável no tocante a linearidade da narrativa.



#MOSTRASP - 3 X 3D

Desde de que a tecnologia 3D foi lançada no cinema sempre defendi que este modelo se serve mais para uma experiência visual do que para um roteiro de diálogos. OK se pensarmos o cinema como a arte das imagens isso não deveria ser de todo preocupante, por outro lado quando o cinema se volta fixamente para a cena que se quer real aos olhos do expectador pode de certa maneira deixar o diálogo dos personagens em um segundo plano.

Bem, dito isso o que posso dizer de 3X3D é que os diretores que dele participaram de fato se empenharam em realizar uma produção onde a experiência visual é quem cativa o expectador. E olha, isso foi muito legal!

3 x 3D é a junção de 3 filmes de 3 diretores diferentes que demonstram deliberadamente através das imagens suas histórias e suas visões sobre a arte visual.

Recomendo como o melhor dos 3, o filme de Peter Greenaway que fala sobre a cidade de Guimarães. Ele trabalha as imagens da história dos artistas portugueses dentro do museu da cidade, percorrendo as alamedas internas e a praça anexa ao museu.

Os filmes de Edgar Pêra e do Godard focam-se mais na história e na evolução do cinema como arte corrente. São bons, mas não com o destaque do de Greenaway.

Na sessão o CineSESC anunciou que comprou a exibição do 3 x 3D. Ele será exibido no ano que vem. Recomendo!

#MOSTRASP - EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

O filme de Julio Bressane é difícil, mas belo. Através da relação de uma mulher quarentona com um jovem recém saído da adolescência, o diretor com um roteiro metafórico demonstra o que entende como um modelo no qual a nossa juventude deveria conviver com a nossa educação. Um relacionamento verdadeiro, de aprendizado, de liberdade e principalmente de aprendizado.

Julio Bressane falando sobre seu filme na sessão do Reserva Cultural
A estética de diálogo segue uma linha teatral, com frases bem construídas e diálogos mais extensos. As imagens fazem-se valer por dentro de uma casa embrenhada dentro da natureza, por vezes o som faz ouvir crianças como se estivessem em um momento de recreio da escola.

A protagonista Áurea (Josie Antello) faz o papel da professora que através de suas conversas com seu aluno (Bernardo Marinho) mostra-lhe a beleza das artes, e é por este meio que ela ensina mas também cativa o seu estudante. Um modelo de relação no qual o ensinar também significa seduzir o seu aprendiz.

Bressane trabalha esta metáfora através de uma relação forte entre homem e mulher, romântica, mas a intervenção da mãe do aluno na relação nos deixa claro qual o papel cada um dos personagens representa na trama.
Para mim, certamente estará entre os melhores filmes que assisti na Mostra deste ano.





domingo, 27 de outubro de 2013

#MOSTRASP - SETENTA

O filme conta a história de pessoas que foram presos políticos na ditadura militar brasileira e que foram banidos do país após o sequestro do Embaixador Suiço, onde foram a moeda de troca.
Documentário produzido pelo Canal Brasil, utiliza-se de uma abordagem clássica do documentarismo.

Pergunta em off e entrevistado na cadeira contando a sua trajetória. Além disso, o filme busca religar estas histórias e provocar o reencontro destas pessoas que há mais de 40 anos estavam sobrevivendo a uma ditadura militar.

O que me chamou a atenção foi uma opinião quase que comum entre todos os entrevistados: As organizações de resistência a ditadura estavam em uma luta inglória, seria muito difícil provocar qualquer tipo de abalo que pudesse de fato derrubar o modelo de governo. Por outro lado o que estes hoje senhores e senhoras tem a convicção que de foram jovens que tinham um sonho e um ideal de fato. O preço pago por estas posições políticas foi alto, alguns pagaram até com a vida, mas a história também tem acertos e hoje estes jovens de 68 são reconhecidos como modelo de juventude.

Recomendo o filme especialmente para black blocs. Ali vocês vão ver depoimentos de gente que tinha embasamento teórico para questionar um status quo, coisa que infelizmente parte dos jovens que hoje fazem passeata não tem. Pense nisso!





quinta-feira, 24 de outubro de 2013

#MOSTRASP - RIO ANO ZERO

Após uma indicação de um amigo que mora no Rio (Valeu Well!), fomos assistir a um documentário dirigido por uma cineasta francesa chamada Aude Chevalier que retrata o processo eleitoral para a prefeitura do município do Rio de Janeiro.


A coisa gira essencialmente sobre a campanha do Marcelo Freixo para a prefeitura, o que para os mais desavisados pode transparecer uma propaganda política lavada, mas observada sob um prisma do olhar estrangeiro sobre um processo político viciado, para não dizer falido, Rio Ano Zero mostra o seu valor histórico e documental.


Apresenta-se ali uma campanha política feita de forma alternativa, concorrendo com um oponente com alto investimento privado e dos meios de comunicação. O expectador não se pode deixar entrar no julgamento de programa de governo ou qualquer outro viés ideológico sob o peso de não fixar o olhar no que realmente o filme quer passar: Existe sim um modelo de campanha política no Brasil que favorece interesses privados em detrimento de uma concorrência leal entre modos e propostas políticas.

Sinto dizer que na minha humilde opinião, este filme não sairá em cartaz no Brasil, apesar de achar que deveria. Como disse o peso das denúncias contidas no documentário contra grandes estruturas privadas de poder e as milícias cariocas, prejudicam um lançamento comercial.

Alguns cariocas estavam na sessão. Não eram convidados simplesmente pagaram para ver o filme. Vendo e ouvindo os relatos de alguns entende-se o porque as manifestações ainda não se arrefeceram no Rio de Janeiro. E é através deste relato que pressuponho que o Rio de Janeiro em 2013 está vivendo o seu "Ano um".


#MOSTRASP - DENDROLOGIUM

Dendrologium é um daqueles filmes com alta carga metafórica. O roteiro e a ideia são muito ricos!
Um homem sai em busca do conhecimento pleno, simbolizado pelo "Doce Fruto". Na sua caminhada encontra-se com vários personagens que indicam a ele os caminhos para atingir o seu grande objetivo.


Tudo o que se passa neste filme tem uma carga simbólica. Desde o fruto colhido pelo protagonista, passando pelos livros que ele encontra no caminho e pelas pessoas com as quais se relaciona. Em algum momento estes símbolos são tão explorados que acabam por tornarem-se óbvios ao expectador.


Na avaliação que a gente vota quando termina a sessão coloquei como "bom". Muito mais pela ideia e roteiro do que mesmo pela produção que transparece ser muito simples e realizada com baixo orçamento. Creio que com um pouco mais de grana para filmar os diretores Amim Azhan e Rafael Stemplewski poderiam apresentar um trabalho mais significativo e condizente com o roteiro cinematográfico.

#MOSTRASP - CURTAS DO KRUBICK + A MORTE PASSOU POR PERTO

Assistimos no domingo uma mini-maratona do Krubick com 2 curtas e o longa  . O primeiro curta falava sobre a rotina de um boxeador em um dia de luta. transparecia a veia humana de um atleta, seus costumes e relacionamentos em um dia onde a derrota e a glória concorrem como crepúsculo de um destino.

Já o segundo curta era uma peça publicitária que contava sobre a estrutura de serviços que o sindicato dos marinheiros americanos oferecia a seus sócios. Como é um filme da década de 60, torna-se interessante documento do modelo de trabalho e costumes da epoca.

O longa "A morte passou por perto" traz volta a retratar o tema boxe. Um lutador após uma dura derrota, apaixona-se perdidamente por uma bela dançarina quando resolve seguir a vida em outro lugar.
Cena de "A morte passou por perto" - 1955

É uma história que nos traz a reflexão dos momentos da vida onde precisamos tomar decisões difíceis, abandonando certos caminhos e partindo para um recomeço, mesmo que incerto. E abandonar esta "velha vida" apesar dos pesares e das dificuldades significa uma renovação que vem ao lado de uma pessoa amada ou em outro lugar distante.

Achei que a parte estética do filme se assemelha com a escola da Nouvelle Vogue do Godard e do Truffaut. Tanto o movimento de câmera, quanto os diálogos e o ápice da história, seguem uma linha muito parecida com o modelo francês.