domingo, 29 de setembro de 2013

SOMBRAS DA NOITE E A ESTÉTICA DE TIM BURTON

Tim Burton é um daqueles diretores que aprendi a respeitar quando finalmente consegui entender que ele estava criando uma estética de cinema própria. Este é o tipo de característica que faz com que certos diretores não passem despercebidos pelo olho do espectador, sendo você um admirador ou um crítico feroz. 

Achei SOMBRAS DA NOITE (Dark Shadows - 2012) um filme melhor do que os últimos lançados por Burton, com humor sarcástico, forte presença da cultura pop americana, ambientação soturna e lógico: Johnny Depp e Helena Boham Carter.

Baseado em uma série americana que eu nunca tinha ouvido falar, o filme se passa ali pelos anos 70 em uma pequena cidade de pescadores. O Vampiro Barnabas (Johnny Depp) é libertado, acidentalmente, de seu sono de 200 anos. Barnabas quer se livrar da maldição de uma bruxa (Eva Green) que tinha por ele uma paixão arrebatadora, mas não correspondida. Assim, ele volta para seu antigo castelo, onde moram hoje os seus descendentes e de, certa forma, é através deles que ele vai buscar acabar com o feitiço que o domina.

Burton lança mão de elementos muito próximos de seu cinema com um personagem atormentado por uma maldição e que investe em (re)conquistar um grande amor. Este "corpo estranho" instala-se em uma família com problemas de relacionamento, onde cada um de seus integrantes parece orbitar por um espaço paralelo de suas vidas, na qual  os objetivos não necessariamente são coincidentes.

Surge também a figura da mocinha frágil arrebatada de paixão por um ser bizarro, que a conquista justamente por este comportamento fora de um padrão comportamental e visual de uma sociedade corrente.


Temos ainda tempo para uma pincelada em outro tema sempre presente. O desejo feminino de uma vida eterna, jovem e fútil, representada seja pela personagem de Helena Boham Carter, seja por Eva Green em sua bruxa bela e fatal, mas feita de porcelana e com um coração doente.

Digno de nota também são as aparições de ícones setentistas do horror. Com um show happining de Alice Cooper e Christopher Lee, uma referência vampiresca aparecendo como o chefe dos pescadores da cidade.

Uma direção de arte que sempre é muito bem feita, clima nublado,características físicas exageradas de alguns personagens nos reafirmam estar se tratando de Tim Burton. 

Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: John August, Seth Grahame-Smith
Com: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Eva Green, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz, Gulliver McGrath
Duração: 113 min.



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ELYSIUM

Por Paulo Nunes Batista

Acredito que Elysium não é o típico filme que satisfaz o gosto de um público cujo perfil é ter no cinema um meio de puro entretenimento. Contudo, por mais alienado que um ser humano consiga ser, não há como deixar a sessão sem o desconfortável pensamento de que existe, realmente, algo de muito podre no reino da Dinamarca.


Arrisco dizer que o diretor Neil Blomkamp tem se tornado um cineasta de distopias, assim como George Orwell, ou Aldous Huxley, foram na literatura. Quem assistiu o impactante “Distrito 9” sabe do que estou falando. Elysium é uma ficção cientifica, nem de longe lembra outras obras do gênero, como 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, ou os filmes das séries Guerra nas Estrelas e Jornada nas Estrelas. Aqui não há espaço para fabulas e o futuro não é um sonho dourado.

Esta obra traz uma critica social contundente a respeito dos rumos do mundo globalizado, com uma perspectiva claramente Marxista. Questões como a desigualdade social e a “robotização” do homem contemporâneo estão no centro dos conflitos protagonizados pelos privilegiados cidadãos de Elysium, um satélite artificial criado por uma elite corporativa no intuito de preservar o seu modo de vida e manter o controle do capital e dos meios de produção, e a miserável população da Terra cuja única motivação que lhes resta é trabalhar e alimentar o sonho de, quem sabe um dia, ascender aos céus e “comprar” o seu lugar entre os eleitos.


No comportamento dos personagens, interpretados por um time de atores de primeira, como Matt Damon, Judie Foster, Vagner Moura, Alice Braga e Sharlito Copley (o Wikus van de Merwe, de Distrito 9), temos a reprodução de padrões de comportamento e valores bastante em voga nos nossos dias. Do pragmatismo de Spider (Vagner Moura) e a da secretaria de defesa Delacourt (Judie Foster) à alienação de Max da Costa (Matt Damon). Da violência insana de Kruger (Sharlito Copley) ao amor incondicional de Frey (Alice Braga). Elysium, assim como foi Distrito 9, é um filme provocativo e, provavelmente para os mais sensíveis, pesado. Contudo é filme que deve ser apreciado e levando muito a sério, especialmente pela sua verossimilhança.



Elysium (Elysium, 2013 / EUA)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp
Com: Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Alice Braga, Sharlto Copley 
Duração: 109 min




sábado, 21 de setembro de 2013

AS ESCOLHAS DE FLORES RARAS

O filme de Bruno Barreto protagonizado por Glória Pires e Miranda Otto baseado no livro “Flores Raras e Banalíssimas” de Carmem Oliveira tem em seu enredo algo que me chamou muita atenção: As escolhas.

Elisabeth Bishop está em crise criativa, pois seus poemas não estão inspirados o suficiente, por isso, ela escolhe fazer um retiro em um país distante com outra cultura e com pessoas diferentes. Opta assim por visitar uma grande amiga de faculdade no Rio de Janeiro.

Mary, a amiga do passado de Elisabeth, tem um relacionamento com Lota de Macedo Soares, famosa arquiteta brasileira. Elas recebem a estadunisense em um belo sítio em Petrópolis. Após algum tempo incomodada com o jeito mais frio da poetisa americana, Lota acaba apaixonada por ela e escolhe deixar Mary para ficar com a ilustre visitante.

Daí em diante, o filme segue nos mostrando as escolhas de pessoas que se relacionam e que por conta da necessidade de vida em comum, precisam optar por renuncias, imposições, posições políticas e constituir uma família.

Grandiosas e decisivas, pequenas e insignificantes, são as escolhas que juntas podem definir o nosso destino, como aconteceu com Lota, Elisabeth e Mary. A história do filme nos reforça esta rotina presente na vida, simplesmente a escolha.

Há ainda que se observar como é a reação de cada personagem quando está diante de uma destas escolhas. Lota é mais forte e decidida, faz suas escolhas e manipula os demais para que optem pelas suas. Mary conforta-se em escolher o que for melhor para Lota, mas sem deixar de lado seus próprios interesses, já Elisabeth faz suas escolhas sempre na busca de um processo de rompimento, de libertação, seja criativo ou amoroso.


Mesmo Bruno Barreto fez a sua escolha. Optou por fazer um filme que não que explorasse em demasiado uma relação lésbica, aliás, dentro da história este fato é quase que um detalhe; Daí que temos diante do expectador uma história de amor destas de cinema, com suas dúvidas, sofrimentos e doações. Simples assim.


Flores Raras* (Flores Raras, 2013 / Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Matthew Chapman, Julie Sayres
Com: Glória Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Marcello Airoldi, Tânia Costa e Marcio Ehrlich
Duração: 118 min.