terça-feira, 7 de janeiro de 2014

DUAS FORMAS DE VER "HABEMUS PAPAM"

O filme de Nani Moretti coloca-nos defronte a uma crítica que navega em clima de comédia, sarcasmo e ceticismo. Apresenta-se a hipótese de recusa de um Papa em assumir o seu cargo logo após ser eleito e assim criar um impasse dentro da estrutura da Igreja.

Como expectador, acabei me deixando seguir por duas linhas de pensamento: Uma de crítica direta às estruturas da Igreja e a sua necessidade tantas vezes proclamada de renovação (E está ai o Papa Francisco botando pra quebrar). E uma outra que nos leva a navegar pelo nosso desejo de sermos de fato humanos e nos desvencilharmos das estruturas que nos mantém de alguma forma presos sem romper com nós mesmos para seguirmos outros rumos.

O novo formato deste blog não me permite aprofundar-me demais nestas duas visões, até porque vocês iriam se cansar desta minha escrita. hahahaha. Mas deixo abaixo uns 2 parágrafos para suscitar em vocês o desejo de assistir o filme, ou para aqueles que já assistiram de concordar ou não com este pobre blogueiro meia boca.

A forma da crítica segue um rumo no qual Nani Moretti questiona toda a estrutura da Igreja com seu viés burocrático e sua postura arcaica, longe do dia-a-dia dos seus fiéis. Ele segue pela linha de que para o Vaticano o mais importante é parecer do que ser. É uma instituição presa nos seus próprios costumes e que não se permite demonstrar seus erros. Isso é demonstrado através de toda a "engenharia de comunicação" que é montada para ocultar a negativa do Papa em assumir o cargo.

É sobre esta hipótese que surge ainda a questão da renovação e de uma igreja que precisa se rejuvenescer nas idéias e na idade. Dai que surge a cena engraçada do torneio de volêi entre os cardeais.

Vendo de outro prisma, percebe-se o Papa diante de um dilema pessoal. Ele de fato não se sente preparado para assumir um cargo de tamanha responsabilidade. Mas como - e principalmente por que - recusar se a eleição é uma escolha de Deus?
É aqui que o filme propõe a busca do homem em qualquer idade de refletir sobre seus limites e sobre seus sonhos. O que me faz feliz? É hora de mudar de rumo? Posso recomeçar ou começar uma nova vida? É dentro deste cenário que o Santo Padre (interpretado belamente por Michel Piccoli) se encontra e é ai que ele confessa o seu desejo antigo de ser ator. Metafórico não?


Direção: Nanni Moretti
• Roteiro: Nanni Moretti (roteiro)Francesco Piccolo (roteiro)
• Gênero: Comédia/Drama
• Origem: Itália
• Duração: 102 minutos
• Tipo: Longa-metragem


domingo, 10 de novembro de 2013

#MOSTRA SP - ERA UMA VEZ EM TÓQUIO

Eis um filme antigo que reforça a genialidade de um diretor. Yasujiro Ozu conta-nos uma história que poderia acontecer (se é que não acontece) com qualquer um de nós. É um retrato do cotidiano e da forma como a sociedade de maneira geral trata o relacionamento familiar.

Temos na trama um casal de idosos que resolve visitar seus filhos que vivem em Tóquio. São recebidos com certa festa contida, porém, deparam-se na sua estada com uma rotina familiar de trabalho dos filhos, os quais por conta destes compromissos não tem tempo de dar a atenção necessária para seus ilustres hóspedes.

Pai e Mãe encontram-se em Tóquio enredados em um cenário onde passam a ser visitas não tão bem recebidas. Os filhos não tem tempo para lhes dar a devida atenção, afinal estão ocupados demais com seu trabalho e sua rotina. Até os seus netos em algum grau também não podem desfrutar da presença dos avós pois eles também são afetados pelo dia-a-dia da vida na cidade grande. Ora, se os pais não são visitados no interior por conta do trabalho, também são privados do contato sadio com os filhos quando eles tomam a atitude de ir visitá-los.

Ironicamente, o casal encontra na nora viúva de um de seus filhos a atenção que merecem. Apesar de também trabalhar para se sustentar ela se esforça em encontrar algum tempo para poder mostrar Tóquio ao simpático casal.

Simples a história não é? Mas o que ela traz a tona é nos questionar e explicitar o quanto estamos dando a devida atenção a nossos relacionamentos familiares, o quanto os compromissos sociais nos tomam tempo de aproveitar um relacionamento que é finito e porque não, de retribuir toda o esforço que nos foi dedicado durante anos pelos nossos pais. 

Estéticamente Ozu ainda utiliza um tipo de plano onde nos diálogos os personagens falam olhando diretamente para a Câmera, o que dá o sentimento de que estão se referindo diretamente ao expectador, contando-lhe os seus problemas e seus pontos de vista. Dentro da história isso incomoda positivamente, pois o personagem fala de algo que na vida moderna parece ser muito comum.